quarta-feira, 29 de maio de 2019

Buquê de flores

A insegurança fode tudo
A minha autoestima foi para o ralo
Com o seu buquê de flores
Que comprei para o meu funeral
Agora tudo o que eu olho
Vem me dizer:
Fracassado de merda
Desapareça enquanto há tempo
Eu me parti em mil pedaços
Mas cheirei a cola ao invés de me grudar
Desça a faca até aonde eu possa sentir
O medo de partir
A vontade de viver.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Dois olhos

Eu olho para os seus olhos e tento descobrir o que te move?
O que te faz pulsar de alegria e gemer mais do que uma transa?
Se eu posso ajudar você a encontrar
Ou se sou um obstáculo para isso
É melhor sempre ser sincero
Para que seja por inteiro
Eu não quero que perca seu tempo
Pois sua vida é sagrada para mim
Há algo como uma combustão
Que nesse pouco tempo que estive vivo, aprendi
Que vale mais do que qualquer eternidade
"Ser amado é passado
Estar amando é presente".



sábado, 11 de agosto de 2018

Vidro de conserva
















Ele aumentava o volume da música como se quisesse que todos ouvissem seu grito interior
Sua reclamação para o mundo, seu legado de tédio e rancor
Agora a mesma cabeça já não tem força para se levantar além do ombro
Está cansada de toda desculpa
Toda palavra não dita por dentro
Seus pensamentos correm como rota de fuga
Sua munição são as palavras
Há sentimentos que dilaceram
Que não detem-se dentro de um vidro de conserva
Nem todos querem viver para sempre
Eu olhei o infinito no pico da maior montanha
E não quis seguir o seu caminho
Eu vi lágrimas, cinzas e dor
Saudades às custas da prosperidade de poucos
Nesse momento eu me achei
Nas dores dos outros
Mas quem quer saber?
Os corações endureceram de mais


quinta-feira, 26 de julho de 2018

Premissas e Primícias

Caminhei entre premissas e primícias
Desapontei a tristeza que em mim persistia
Armei ciladas contra sua provocadora dor
Espantei para longe a saudade
Desmatei minhas crenças de inferioridade
E não enxerguei limites que eu não podia alcançar
Vi nas celas de suas casas
Mentiras propagadas por ondas
Deixei o que era desnecessário
Para me ver refletido em seus olhos
Não dei tapa à doer
A não ser para você entender
Que sou loucura aonde desejo
E mato por amor se necessário
Não tenho por medo o tempo
Que à seu tempo
Revelará todos os nossos segredos
Nem tenho por utopia a paz
E as cicatrizes nisso atestam
Cansei de remoer o passado
E me perder do presente
Há alegria suficiente
Para nos embebedar de sua fonte
Encher nossas paginas vazias
De história desarmada de rotina
Para viver com liberdade
Livre de todo o julgo.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Manifesto calado

Vontade eu lhe senti de escrever
E nunca mais dizer: saudades!
Vontade também senti de vencer
E correr com quem me ama
Penetrar sem rasgar a alma de ninguém
Nem ferir com tola intrepidez
Armadas, ferinas, pó em meu nariz
Sei quantas vezes que pesei
O fardo que teria de carregar
Se conheço minhas desvantagens
Procuro ver além da paisagem
Imposta, resposta vazia
Que não preenche esse vazio
Sei quantas vezes que madruguei
Pelos passos largos na cidade
Sonhava como areia movediça
Me levando cativo pelo buraco
Manifesto, calado, boquiaberto
Amando até que tudo se exploda
Eu engatinharia sobre cinzas
Fazendo da lua manto sagrado

Me colheria debaixo de seu cobertor
E morreria intoxicado por sua fumaça purificante
Não te emprestaria mais óculos
Para penetrar na dor dessa gente
Alimentando mazelas para manter
A ânsia de nossos desejos
Pagando caro pelo caro
Luxo pelo duvidoso
Para te deixar na terra sem amor
Vazio e sem alma no bolso
Se te viste sem nada no peito
Era para tu aprender
Pois também já me perdi por essas colinas
De dor, medo e reflexão
Tempestades em nossos copos
Fazendo crescer aquilo que plantamos
Vontade de desaprender e esquecer
Todo gesto apregoado com horror
Ainda que a arrogância me espantasse
Desejaria mais que meu fim
Minha cara, vida rara!

quarta-feira, 7 de março de 2018

Naftalina





















Diploma em decomposição moldado no quadro,
álbum de família no guarda-roupa cheirando a naftalina.
Trevo de 4 folhas dentro da carteira
lingerie vermelha para atrair amor.
Aglomerado de moléculas sem motivação,
procurando alguém que lhe dê corda
que lhe tire da "caixa".
Olhando da janela embasada pela respiração
escrevendo seu nome na neblina,
cavando rugas de expressão sem sorrir sinceramente,
aparência mofada no quarto,
prazo de validade vencida. 
Queríamos tanta coisa
e tanta pouca coisa nos era necessária,
mas era mais fácil nos acomodar,
consentir com nossa falsa impotência.
Sujar as mãos, bater cartão
e morrer lentamente com a caixa de comprimidos em mãos.
Desejando bom dia para demonstrar que se importa,
sem se importar realmente,
dizendo adeus sem querer dizer.
Quem seriamos,
se pudêssemos ver além dos olhos?
O que você faria diferente
se tivesse mais uma ficha na mão?
Olhe pelo retrovisor e veja aonde nós chegamos,
não se esqueça dos calos e arranhões sobre a pele.
Até a palavra mais maldita quando domada se silencia,
a lágrima vira diamante
e o que parecia ser a saída
já não era pela manhã,
há alguém disposto a compartilhar seu calor
para te aquecer na tempestade fria,
não desista,
a vida é uma roleta-russa. 



terça-feira, 6 de março de 2018

Seta

Eu me vi correndo a trezentas milhas daqui, eu estava descalço e sangrava um vermelho sincero como o entardecer, daqueles que vemos na primavera. Eu senti o ócio, a fadiga e a sede, contemplando os montes e os vales do peito e da alma, da resposta que não sacia. Vi que a luz que ardia não era a que me cegava, que se o coração é a bússola, o norte ele erra. Se apegar demais no que se sabe, no que os olhos vêem, não aproveitaria nada, pois a vida seria como lama ardilosa escorrendo entre meus dedos, fazendo obséquios, eternidade num instante.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Vida sem bolso

Não será sensacionalismo
Depois de décadas
Várias tragédias
Consumismo de massas
Evaporando agora toda fonte
De luz e vida animal
Do bom que havia no homem
Sem miséria
Sem escravidão
Alma limpa
Vida sem bolso
Luz brilhante que por ela não me movo
Dinheiro mesclado com ódio
Fumado até o osso
Uma nação obscurecida
Pela exploração de seu povo
O que pagamos
É essa história viva
O que não retemos
É justiça!

sábado, 25 de junho de 2016

Calo de inchaço

















Calo de inchaço
Inchaço que não me calo
Calo que me morde
Que desbota meu céu azul
O que quer eu que conte será pesado
O que quer eu que nos incomodava, será inchaço
Inchaço nos punhos e nos rostos das senhoras
Ônibus lotados, olhares massacrados
Sei o que eu tenho ouvido
E o que não sai do meu ouvido
Nos sugam até a última veia
Calo de inchaço que nos fizeram carregar
Amedrontando meio mundo
Tirando sono de pai de família
O que que eu conte será pesado
Será martelo que para nós tem peso
Homem velho de terno e gravata
Esquecido de seu povo
Crianças rebolando
Na próxima parada de som de carros
Reiterem o boato
Refaça nossas margens
Deixem-nos viver
Como viviam os loucos
Que não amando esse mundo
Buscavam outro

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Agricultor de corações





















Não sou um cara que escreveria um livro
Eu ajuntaria pedaços de meus fragmentos
E esconderia os cortes debaixo do travesseiro
Aonde o ouvido dorme sossegado
E o coração finge que ouve
Há uma rixa dentro de mim
Há meio caminho andado
Há um cara que diz:
"Ei! você utiliza muitas metáforas"
E outro que diz:
"Seja mais razoável"
Diante da lagoa que eu nunca nadei na vida
Eu desejaria ser um peixe
E não me molestar
Com essas indagações
Mas sou bicho feito homem
O mais privilegiado e cruel dos seres
Dotado de consciência
Dopamina e endorfina
Se penso logo existo
O que eu tenho feito de minha existência?
Se não me dou bem com a meritocracia
E não me adapto ás hierarquias
Porque devo me considerar
Excluído socialmente ?
Se não corro para chegar primeiro
Se não me move suas paixões
Carros, posses e outros bens materiais
Porque devo me sentir 

socialmente fracassado?
Sou eu o agricultor de meu coração
Que habita na aldeia de meus pensamentos
Estou sempre descalço
Com a alma desnuda
Renovável como a luz solar
Mas escuro em seu âmago.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Deserto

Deserto, salvação, ruas, feridas,
Amor! que como vela se consome
É mais alto que o grito
Volume ainda que ardido
Degusta de sua nudez
Faz barraco como um conde
Até o casebre se vestir de palácio
Coisas, pessoas, tempo e memorias
Desfechos sem nenhum final feliz
Lembranças que não mais lhe agridem
Vai saber, quantas coisas em mim matei?

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Ápice


Há mistério além daqui
Portas que nunca cruzamos
E deciframos tudo 
Em linhas tortas de giz
Sujo, porém mal amado
Eu nunca busquei
E nem mesmo tentei
Ser amado duas vezes
Esse é meu purgatório
Acreditar que não fui rei
Reclamar pelo que plantei
Matar o que me movia
Desperta-me para longe
Terra sem pedofilia
Inocência não perdida
Tarde eterna e feliz
No meu amor de giz

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Afinando

Gosto do significado de rico em hebraico, que é "ashir", palavra formada pelas iniciais de "olhos, dentes, mãos e pés". Rico é quem tem olhos para ver, dentes para mastigar e falar, mãos para criar e pés para caminhar. Isto não se refere ao aspecto físico, mas à nossa capacidade de criar, compartilhar, amar e ser benevolente. Os gregos, por exemplo, descreviam os objetos em relação à sua aparência. Os hebreus, ao contrário, consideravam mais a essência e função das coisas. Exemplo: Se nos mostrassem um lápis e nos pedissem para descrevê-lo, como seria nossa descrição? Provavelmente, diríamos: “O lápis é azul”, ou “é amarelo”; “tem ponta fina”, ou não; “é cilíndrico”, ou “é retangular”; “é curto”, ou “é comprido”; etc. Um hebreu descreveria o mesmo lápis de forma bem mais simples e objetiva: “É feito de madeira, e eu escrevo palavras com isto.” O estilo de descrição dos hebreus era também pessoal – o objeto era descrito de acordo com a relação dele com a pessoa. Ao descrever um dia ensolarado, em vez de dizer: “O dia está lindo”, um hebreu diria: “O sol aquece meu rosto!”. Na cosmovisão hebraica, a essência das coisas e sua função eram mais importantes que a forma ou a aparência. Na cosmovisão ocidental capitalista o indivíduo encontra-se envolvido por uma áurea que determina seu grau social. Seu sexo, sua faixa étnica, sua religião, sua ideologia política, sua classe social, entre outros, definem o nível de discriminação que o indivíduo irá sofrer ou não, as oportunidades que ele receberá e aquelas que deixará de obter, as dificuldades do caminho, enfim, seu "status social"
"O "saber" e o "ser "já foram bens de alto valor moral social. Hoje vivemos os tempos do “ter”, em que não importa o que uma pessoa saiba ou faça, mas sim que ela tenha dinheiro (de preferência muito) para pagar por sua ignorância e por suas falhas de caráter. Nesse cenário propício surge a cultura da “esperteza”: temos que ser ricos, bonitos, etiquetados, sarados, descolados e muito invejados. O pior dessa cultura é que seus membros sociais não se contentam apenas com o “ter”, é necessário exibir e ostentar todos os seus bens. Assim ninguém esquece, nem sequer por um minuto, quem são os donos da festa. (Trechos selecionados do livro Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado - Páginas 157 e 158:)
Acredito que status social devia ser caráter, já conheci pobre muito rico e rico muito pobre, orgulho disfarçado em roupagem de humildade e inteligência e beleza se perderem por causa da arrogância. Como diz aquela frase de Matheus Dimitru Scutasu:"Conheci um homem tão pobre, mas tão pobre que só tinha dinheiro." Imagine como o mundo seria um lugar muito melhor se as pessoas tão somente deixassem de definir e julgar o próximo segundo seu sexo, etnia, religião, dinheiro e etc. E vissem somente o valor intrínseco do ser humano, não visando somente a aquisição de dinheiro, mas na lapidação de um caráter nobre. E que o "bem-sucedido" não é aquele que possui riqueza material, mas aquele que é rico no amor, que ama o próximo, respeita e que não discrimina ainda que discorde. E que a pior doença não é a física, mas aquela que se caracteriza pela ausência de conceitos abstratos, como o amor e a humildade. Sem esquecer que é fato que o estresse mental pode ter um impacto negativo na saúde física. Quando deixamos de basear nossas concepções e valores pelo o que a sociedade de massa prega, quando nos afastamos de sua massificação e padronização com suas ideias que induz as pessoas a se comportarem como meros consumidores e contribuintes e não como cidadãos dotados de espírito crítico, aí então, estamos próximos de nossa verdadeira essência e identidade. Paulo Freire escreve: A massificação transforma os homens em seres passivos, acomodados, ajustados, incapazes de decidir, sem liberdade, e, portanto, heterônomos. Por isso, o homem não deve acomodar-se no mundo, e sim integrar-se no com o mundo. A sabedoria antiga ensina: "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente" Romanos 12:2. Pois, como bem escreveu Kin Hubbard: "É difícil dizer o que traz a felicidade, a pobreza e a riqueza, por exemplo, já falharam." Bem, no mundo atual, o amor, em suas várias formas, se resume muitas vezes a um mero sentimento. Mas prefiro a visão hebraica que ensina que amor é mais que isso: é uma escolha, é algo prático, traduzido em ações.

sábado, 31 de outubro de 2015

Céu da boca















E quando você se cansar?
E me deixar no horizonte?
Deixar de ver as flores e o seu aroma
E começar a se perturbar pelos espinhos?
Quando minha feiura sobrepor minha beleza
E eu tiver nadado até a última praia
Atrás de pérolas que se dissolvem na mão?
Como areia movediça você se fez
E me capturou em suas entranhas
Mas minha carne contém espinhos
E depois da fome saciada o espinho virou lixo
Os pés depois de enxaguados inundaram meu ilhado ser
Já fui depositado entre as covas de tartarugas mortas
Rodopiei o mundo e encontrei
Um revolver no meu quarto
Mesclei dopamina com você
E não amei mais a pornografia
Não percebi seu afeto
E morri de paranoia
Alimentando a escuridão
Engolindo lâmpadas
E quando você não me quiser ?
E eu estiver acampado em seu coração ?
E se sua terra encher de néctar
Que traga menos ferroadas ?
E não te deixe solapar as entranhas
Fisgadas no fundo do estômago
Sei quantos nós eu trago
Quantos arranhões sobre a pele
Sinto que canso
Que não sou bom o bastante
Desperdicei tempo com refrigerantes
E possuo pouco cálcio
Meus dentes rangem de apreensão
Tornando pontas pontiagudas
O céu da sua boca é o meu céu
Tua linguá minha terra prometida
Se eu perder o foco me afogo
Nesse naufrágio que eu me criei
Era cinza aquela manhã
Eu desesperado me arrependi
Chorei com Deus
E ele chorou comigo.




quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Contrapeso

De canto
Deixo meu reclamo
Formosa viela
O que fizeram com nossos filhos ?
Abastecido de murros
Murros contra esse mundo
Não quero lua sangrenta
Nem muito menos ver a rua sangrar
Não abafe a nossa dor
Deixe-a respirar
De encanto e recanto
Só encontrei no amor
Puro sem ser fingido
Louco sem ser insensato
Na bala que impediram o nosso avanço
Construímos barricadas
E argumentei comigo mesmo
Divagando sobre a vida
Existência além de escalas
Organismos violentos
Que as vezes nos excedem
Mas como contrapeso
Meu poema
Para enfrentar a realidade
Superar o dia a dia
Demonstrar além das expectativas
Viver além das estatísticas

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Eu poderia
















Um vazio, um vácuo, o que importa? Ela partiu
desfazendo a noite no meu mundo de drogas
entre pensamentos, mentes o que sorriu
foi o beijo explodindo como um pavio
minhas crenças, rezas e mantras
inúteis a voz que me chama
a sair da cela que me fiz vilão
Para não me emboscar mais em sua teia
poderia eu ter apertado o gatilho
de minha pobre e doce invenção
que tentei de moldar no meu viver
e esquecer que também sou culpa
que pisaria em nossos cadáveres
almejando subir andares
do inferno ao céu
paciência vencida
paz devolvida
já não sou mais uma alma caída
ou ovelha descarregada
levantei te seguindo do rastro
que te fiz sangrar sem merecer
sussurrando em seu ouvido
que te amo é o meu adeus
e o meu adeus é o meu braço estendido
precisava dela interiormente
naquilo que bate e ninguém entende
que nas noites frias me fez alguém
amado ou desprezado
me deixava atordoado
vontade de te ver apertada aqui dentro
ocupando todo o espaço
que deixei vazio para mim
guardando futilidades e vaidades
que despacho agora com virilidade
a morte que vive em mim
pois meu coração egoísta e confuso
agora entende você longe de mim

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Dura palavra
















Palavras proferidas sem mel
Pertubando espirito sem paz
Nem imaginam quanta dor

Nós tivemos que carregar
Nem sabiam distinguir a verdade

Intenções no coração
Sem seio e desarmado eu fiquei

Quando traí meu refrigério
Parti da cidade rumo ao porto

Para o mar de compreensão
Partidas que arrastam em cordas

Lembranças que trazem cargas
Obestinado a amar e ser amado
Mesmo que seja dura a palavra
Se mata ou da vida
Não interessa a dentes alheios
Nem queria que me abatesse
Sua coragem sem olhos
Ou tola intrepidez

Destinado a ferir-me

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Rinite





















Eu vi, vi que era louco
Quando o grito se instalou na garganta
Quando a alma que ama também sangra
Eu vi, vi que era louco
Vivendo no meio dessa gente "sã"
Acostumado ao tédio
Homem subalterno
Eu vi, vi que era louco
Quando os sábios desse mundo
Ensinaram o caminho da guerra
Que classes não é classic
Para quem vive nas classes baixas
Entre cortes cuspidos
Corpos ardidos
Ardendo como chama
Re-vol-ta
Na cara da polícia
Cria da burguesia
Que se repita!
O amor e a poesia
Pois ambas são uma
Apontadas contra a cara da tirania
Seja dos sentimentos
Ou dos generais
Ferido por fardas
Ou canções de amparo
O que o homem não pode inventar
É a minha vida apegada a sua
Sem rinite
Sem artrite

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Cinza


Como um gesto te cativo
E te faço amparo para dias cinzas
Amanheço mesmo quando não quero
Quando não subtraio o que te resolve
Panela de pressão ecoando pela sala
Sociedade mórbida que tivemos que inventar
Janela doce de minha infância
Que tentaram fechar
Já não há mais espamos

Galho que te cutuque a noite
E te faça acordar do sonho
Para o que te faz sangrar

Acorrentar nunca mais
Aos horrores da vida cotidiana
Vida sem obituario
Amores sem tiroteios
Existência que eu quero
Que me move quando amanheço.

sábado, 4 de abril de 2015

Filé de peixe
















Eu tive medo de ser
E nunca mais subi naquela gangorra
Do gramado daquela casa
Eu nunca mais caí por brincadeira
Do alto daquela árvore
Eu nunca mais me apaixonei
Nem me vi mais
Com asas de imaginação
Voando sobre os alicerces
Paixão que vence o terror
Quanto mais eu sabia
Mais eu via como esse mundo era triste
Voando do teto para as estrelas
Vista panorâmica do que me retenho
Quanto mais amor me tinham
Mais eu não entendia
Como podem me amar tanto
Me ter entre os puxões de orelha
Suportar minha loucura
E ainda me carregar quando estou caído?

domingo, 22 de março de 2015

Cidade charada

Por isso que escrevo com giz de cera, realidade foi o que eu não quiz sentir, maldade dos passos que avançam pela cidade, sobre a poça de sangue, inocente ou culpado.  As vezes vejo desespero disfarçado em pele de orgulho, areia dentro de seus ouvidos entupindo todo discurso no vazio, ferida disfarçada com sorriso, para quem não sabe mentir, e vive correndo da verdade, o obstáculo é você mesmo, sobre a morte de um homem só, enfrentando seus dogmas e paradigmas.  Corram! dizem eles, para que não sejam contaminados, mas vendidos estão todos seus direitos, acorrentados até as cordas do inferno, carregando suspeito como bandido, de terno ou eloquente pregador, enfeitando a cidade charada, que me fez sentar nela, e falar de sua maldade e mordida cruel, que fez rasgar o sonho de muitos loucos, poetas, bêbados e sonhadores.   Cidade charada estou cagando pra ti.

Por Manfrá

domingo, 4 de janeiro de 2015

Estátua de pó

Eu vejo os olhos dela
Rota ardente de visão
Maça vermelha no rosto
Estátua de pó
Estou ficando assim
A cada dia pior
Morrendo como uma lesma
Banhado pelo sal
Frutificando bolhas
Estouradas pelo sol
Como musgo que renasce
Cocaína que empedra
Relva que queima
Sonhos de um homem
Eu vejo os olhos dela
Olhos de como quem que não quer nada
Saindo pela sala
Me deixando no escuro
Espero que revolte
Que enlouqueça
Nossos sentimentos mais sujos
Fera mansa do amor
Que não contorne o retorno
Que inflija o pedágio
Que fure a catraca
Que se doe
Sem medo de doer.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Interligando




















Aprendi que é mais sábio
ouvir do que falar
mas se calar diante da injustiça
é consenso e covardia
quantas intenções há nos corações?
quantas mentes sem noção?
quantos estômagos fartos
reclamando de barriga cheia?
pisando o casebre
enriquecendo a mansão
zombando da fé do pobre
que o conforta na solidão
nessas redondezas
só se ouviu falar do amor
nessas quebradas
Jesus andaria e não desprezaria ninguém
nessa bocada
coração virou pedra
Nessas avenidas
Por essas vias
Vida que se via
E que já não se vê
dessa fossa
pobres viraram reis
a disciplina com amor
causou diferença
a disciplina sem amor
gerou indiferença
o grito de subversão
ecoa para toda eternidade
o da ganância
corroe como câncer novo
estabelecendo rotas
traçando mapas
calcando mazelas
hienas no poder

domingo, 11 de maio de 2014

Invenção do crack
















Quem sou eu que passa na multidão
Invisível entre as pessoas?
Esbarro em um, tropeço em outro
Sigo em frente apertado como um nó
Corpo amassado e irreconhecível
Lá no fundo aos olhos de quem vê
Não sai da multidão eu que quero sair
Sai gente e entra gente
E continua tudo embasado
Viro para um lado e para o outro
Acanhado e chateado
Tá tudo achatado
Desse lado de cá
Não da nem pra conversar
Derrepende sou eu que falo:
Da um dez ae!
Sujeito esquisito que me olha
De repente solta a pergunta:
Quer uma pedrinha aí ?
Afirmo que sim
Pego uma lata qualquer no chão
Toda pisoteada e desfigurada
Fumo ali mesmo sem receio
Sem dó e piedade
Neguinho me olha fissurado
Tenho que parar
Guardar minha pedrinha pro jantar
Vou viajar daqui
E vou de lata
Primeira classe
Da esquadrilha da fumaça
Não sou rei, não sou herdeiro
Sou invenção do crack
Pedra do mal
Sujeito do mal
Vou sair da multidão
Do inferno cracolândia
Tá muito embaçado aqui
Não da nem pra respirar!

segunda-feira, 31 de março de 2014

Surtir













Mesmo que eu falasse sobre o amor por noites inteiras
e pregasse sobre a humildade nos campos e cidades
E tivesse a chave para o portão da liberdade
A calmaria de toda a raiva
A Paz para todo o ódio
E a luz para todos os povos
Mesmo que sacudisse o mundo com minhas mãos
e gritasse para o universo inteiro
E tivesse o caminho da felicidade eterna
A solução para todos os problemas
E respostas para todas as perguntas
De nada adiantaria para uma sociedade orgulhosa.



terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Fruta atômica















Escravo do futuro
Refém do passado
Não arrumei temperança
E me autodestruí
Já fui achado sofrendo por mim mesmo
Por algo que eu não cresci
Se a vida me desse alguns tapas
eu acordaria para o que disse
Que já fui mal de minha sorte
E sombra de meus dias quentes
Vivendo nessa corda bamba
Desejando voltar para o seu umbigo
Não desejar mais essa infelicidade
Que me pôs de joelhos sobre seus escombros
De cidade fedida e caída
para céu azul e mato abundante
Vilão nunca mais me achou
Perdido entre os restos de sua historia
Que de uma fruta proibida
Á uma bomba atômica
Todos nós
Se tornamos culpados
Me equilibrando entre eu te amos
Tentando sossegar minha sede
Já cai por desespero
Falta de fé comigo mesmo
Não queira essa inveja
O mal que te domina
Sou o que sobrou do lúdico
E da criança incompreendida
Preso no porão de minha mente
Cavando na terra meu lar
Fugitivo da psicose humana.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Selva de louco






















As vezes é necessário fugir
para poder resistir
a toda essa mania
De falso canalha e mentiroso
que a vida pode te apresentar
tenha noção do que se transforma
e não deixe de se transformar
Não pense que sabe tudo
nem que não sabe nada
a paz é um caminho estreito
e eu estou longe dela
confiar em gente é loucura
que até um animal comete
estar ciente do perigo
é estar ciente das regras
mas se está livre
nada te impedirá
Se sou homem ciente do amor
vou procura-lo mais afundo
longe de toda essa bobeira
de selva de pedra
que curva homens
à objetos
matam seus semelhantes
por moedas
vendem a vida
por nada

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Geração crack















o sangue corre solto
regando o solo desse dia
a experiência que eu proponho
não é lunatica nem vazia
grita nas mentes mais loucas
o ouro que roubaram
o amor que negaram
o sangue que não pouparam
há muitas historias nas ruas
mais lindas que belas poesias
amor não comercial
nome vomitado num refrigerante
povo digno
maior que seus politicos
essa é a nossa plebe
escudo contra seus inimigos
do poder à televisão
toda poesia que inalaram
de nossas queimaduras
familia oprimida
esquecida em casa abondonada
abro a janela e vejo cinza
e o verde se distancia
como a fé de nossos irmãos
a caricatura está ali
demonstrando nosso erro
Estatua erguida e embassada
de lideres que não nos lideraram
Historias de generais e reis
que não nos regiam
miseria antecipada
pela ganancia dos que oprimiam
essa é a nossa voz
geração crack
esse é o nosso óbito
morte contra o progresso
revolta contra a ordem.
 


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Hipócritas desguarnecidos

























Já conheci gente louca que se dizia sã
Que não se humilhava por um prato de comida
Que não entendia o mundo além do seu espelho
Desprezo alheio eram seus paradigmas
Feitos um para o outro, hipócritas desguarnecidos
Eu não sou desapego nem medo que te mate de dia
Eu não sou confiável, conheço meus anseios
Desfecho de um mundo em agonia é o que tenho apreço
Louco amanhecido gritando na rua, despertando multidão alheia
Olhares que não se podem distinguir, hipnotizados pela lente manipuladora
Eu vejo a farsa que nos encarceraram a vida, presos naquilo que possuem
Montanha de onde descende ? Para eu me ver longe da sociedade doente
Longe daquilo que possuo e do que deixo me possuir
Monte sobre esse barbante e fale-nos sobre a vida
Corra para o que te quer bem, mesmo que me deixe sozinho nessa fantasia
Já fui julgado por leis que não me regiam, celas que não me diziam
Que num momento eu me extinto e despisto seu olhar torto
Olho através do que me edificou, fé de mãe que se assemelhava ao pai
Não mais mentindo, contando a verdade num texto
Medo, vergonha, hipocrisias, tudo o que era segredo
Queimando em minhas poesias.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Vinte e quatro
















Sangra dentro de mim
misérias e covardia
Não se apegue a esse sol
que te queima durante o dia
sou instrumento sem chave
mentiroso em cativeiro
se me sinto pesado
descarrego minhas munições
lavrando essa terra tarde
amarga de minhas burrices
me pego triste e redimido
no amor que me repreendeu
quantas pegadas que deixei
massa bipolar em erupção
quer queira quer não
mal visto por olho banal
vendo que estou desnudo
fracasso em ejaculação
merdas psíquicas traumatizadoras
neuroses no meu varal
busco mas não formo ideias
que descreva esse espírito
sujo porém mais vivo
de muita maior conotação