quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Dois olhos

Eu olho para os seus olhos e tento descobrir o que te move?
O que te faz pulsar de alegria e gemer mais do que uma transa?
Se eu posso ajudar você a encontrar
Ou se sou um obstáculo para isso
É melhor sempre ser sincero
Para que seja por inteiro
Eu não quero que perca seu tempo
Pois sua vida é sagrada para mim
Há algo como uma combustão
Que nesse pouco tempo que estive vivo, aprendi
Que vale mais do que qualquer eternidade
"Ser amado é passado
Estar amando é presente".



sábado, 11 de agosto de 2018

Vidro de conserva
















Ele aumentava o volume da música como se quisesse que todos ouvissem seu grito interior
Sua reclamação para o mundo, seu legado de tédio e rancor
Agora a mesma cabeça já não tem força para se levantar além do ombro
Está cansada de toda desculpa
Toda palavra não dita por dentro
Seus pensamentos correm como rota de fuga
Sua munição são as palavras
Há sentimentos que dilaceram
Que não detem-se dentro de um vidro de conserva
Nem todos querem viver para sempre
Eu olhei o infinito no pico da maior montanha
E não quis seguir o seu caminho
Eu vi lágrimas, cinzas e dor
Saudades às custas da prosperidade de poucos
Nesse momento eu me achei
Nas dores dos outros
Mas quem quer saber?
Os corações endureceram de mais


quinta-feira, 26 de julho de 2018

Premissas e Primícias

Caminhei entre premissas e primícias
Desapontei a tristeza que em mim persistia
Armei ciladas contra sua provocadora dor
Espantei para longe a saudade
Desmatei minhas crenças de inferioridade
E não enxerguei limites que eu não podia alcançar
Vi nas celas de suas casas
Mentiras propagadas por ondas
Deixei o que era desnecessário
Para me ver refletido em seus olhos
Não dei tapa à doer
A não ser para você entender
Que sou loucura aonde desejo
E mato por amor se necessário
Não tenho por medo o tempo
Que à seu tempo
Revelará todos os nossos segredos
Nem tenho por utopia a paz
E as cicatrizes nisso atestam
Cansei de remoer o passado
E me perder do presente
Há alegria suficiente
Para nos embebedar de sua fonte
Encher nossas paginas vazias
De história desarmada de rotina
Para viver com liberdade
Livre de todo o julgo.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Manifesto calado

Vontade eu lhe senti de escrever
E nunca mais dizer: saudades!
Vontade também senti de vencer
E correr com quem me ama
Penetrar sem rasgar a alma de ninguém
Nem ferir com tola intrepidez
Armadas, ferinas, pó em meu nariz
Sei quantas vezes que pesei
O fardo que teria de carregar
Se conheço minhas desvantagens
Procuro ver além da paisagem
Imposta, resposta vazia
Que não preenche esse vazio
Sei quantas vezes que madruguei
Pelos passos largos na cidade
Sonhava como areia movediça
Me levando cativo pelo buraco
Manifesto, calado, boquiaberto
Amando até que tudo se exploda
Eu engatinharia sobre cinzas
Fazendo da lua manto sagrado

Me colheria debaixo de seu cobertor
E morreria intoxicado por sua fumaça purificante
Não te emprestaria mais óculos
Para penetrar na dor dessa gente
Alimentando mazelas para manter
A ânsia de nossos desejos
Pagando caro pelo caro
Luxo pelo duvidoso
Para te deixar na terra sem amor
Vazio e sem alma no bolso
Se te viste sem nada no peito
Era para tu aprender
Pois também já me perdi por essas colinas
De dor, medo e reflexão
Tempestades em nossos copos
Fazendo crescer aquilo que plantamos
Vontade de desaprender e esquecer
Todo gesto apregoado com horror
Ainda que a arrogância me espantasse
Desejaria mais que meu fim
Minha cara, vida rara!

quarta-feira, 7 de março de 2018

Naftalina





















Diploma em decomposição moldado no quadro,
álbum de família no guarda-roupa cheirando a naftalina.
Trevo de 4 folhas dentro da carteira
lingerie vermelha para atrair amor.
Aglomerado de moléculas sem motivação,
procurando alguém que lhe dê corda
que lhe tire da "caixa".
Olhando da janela embasada pela respiração
escrevendo seu nome na neblina,
cavando rugas de expressão sem sorrir sinceramente,
aparência mofada no quarto,
prazo de validade vencida. 
Queríamos tanta coisa
e tanta pouca coisa nos era necessária,
mas era mais fácil nos acomodar,
consentir com nossa falsa impotência.
Sujar as mãos, bater cartão
e morrer lentamente com a caixa de comprimidos em mãos.
Desejando bom dia para demonstrar que se importa,
sem se importar realmente,
dizendo adeus sem querer dizer.
Quem seriamos,
se pudêssemos ver além dos olhos?
O que você faria diferente
se tivesse mais uma ficha na mão?
Olhe pelo retrovisor e veja aonde nós chegamos,
não se esqueça dos calos e arranhões sobre a pele.
Até a palavra mais maldita quando domada se silencia,
a lágrima vira diamante
e o que parecia ser a saída
já não era pela manhã,
há alguém disposto a compartilhar seu calor
para te aquecer na tempestade fria,
não desista,
a vida é uma roleta-russa. 



terça-feira, 6 de março de 2018

Seta

Eu me vi correndo a trezentas milhas daqui, eu estava descalço e sangrava um vermelho sincero como o entardecer, daqueles que vemos na primavera. Eu senti o ócio, a fadiga e a sede, contemplando os montes e os vales do peito e da alma, da resposta que não sacia. Vi que a luz que ardia não era a que me cegava, que se o coração é a bússola, o norte ele erra. Se apegar demais no que se sabe, no que os olhos vêem, não aproveitaria nada, pois a vida seria como lama ardilosa escorrendo entre meus dedos, fazendo obséquios, eternidade num instante.