sábado, 25 de junho de 2016

Calo de inchaço

















Calo de inchaço
Inchaço que não me calo
Calo que me morde
Que desbota meu céu azul
O que quer eu que conte será pesado
O que quer eu que nos incomodava, será inchaço
Inchaço nos punhos e nos rostos das senhoras
Ônibus lotados, olhares massacrados
Sei o que eu tenho ouvido
E o que não sai do meu ouvido
Nos sugam até a última veia
Calo de inchaço que nos fizeram carregar
Amedrontando meio mundo
Tirando sono de pai de família
O que que eu conte será pesado
Será martelo que para nós tem peso
Homem velho de terno e gravata
Esquecido de seu povo
Crianças rebolando
Na próxima parada de som de carros
Reiterem o boato
Refaça nossas margens
Deixem-nos viver
Como viviam os loucos
Que não amando esse mundo
Buscavam outro

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Agricultor de corações





















Não sou um cara que escreveria um livro
Eu ajuntaria pedaços de meus fragmentos
E esconderia os cortes debaixo do travesseiro
Aonde o ouvido dorme sossegado
E o coração finge que ouve
Há uma rixa dentro de mim
Há meio caminho andado
Há um cara que diz:
"Ei! você utiliza muitas metáforas"
E outro que diz:
"Seja mais razoável"
Diante da lagoa que eu nunca nadei na vida
Eu desejaria ser um peixe
E não me molestar
Com essas indagações
Mas sou bicho feito homem
O mais privilegiado e cruel dos seres
Dotado de consciência
Dopamina e endorfina
Se penso logo existo
O que eu tenho feito de minha existência?
Se não me dou bem com a meritocracia
E não me adapto ás hierarquias
Porque devo me considerar
Excluído socialmente ?
Se não corro para chegar primeiro
Se não me move suas paixões
Carros, posses e outros bens materiais
Porque devo me sentir 

socialmente fracassado?
Sou eu o agricultor de meu coração
Que habita na aldeia de meus pensamentos
Estou sempre descalço
Com a alma desnuda
Renovável como a luz solar
Mas escuro em seu âmago.