sábado, 30 de junho de 2012

Jornal tequila

De Vasconcelos encardido ela me chamava, Vasconcelos que não quero, que não quero ao meu ver.  Mal entre mal, o televisor esquentando na tela do jornal, motorizado o permanente estado da mente humana, entre velozes e fudidos, perdas e ganhos da vida submissa ao finito, formal, pessoal condicionamento sub-humano de uma espécie entre si.  Quem ela era no meu processo de evolução? Margarita Tequila, Tequila de unhas encravadas.   Tem muita gente esquecida da tristeza, do infortúnio que traz o homem a pensar.   Margarita era vulcão em erupção, como uma jarrada de fogo mortificada queimando ela e a mim num passeio pelas estradas de Monte-Carlo.  Como folgosa, folgosa ela me chamava, impertinente, perdida ao processo de elaboração, vazia por dentro como eu, devorando nossa estrada de regresso, de nosso habitat natural para nossa rota de fuga.  Como jovens eternos queríamos morrer, morrer sem saber que vivemos para o nosso próprio caos, sem chance de roleta russa no final, a música continua tocando, mas ninguém consegue entendê-la, é impertinente aos ouvidos acostumados a serem tratados como lixeira, de dejetos e promessas esgotadas, tolas se comparado a sabedoria divina, sem pêssego na volta, somente obscuros desejos dos que ainda queimam em mim.

Por Manfrá

terça-feira, 26 de junho de 2012

Muralha forte











Vem e me derruba, muralha forte de vento forte
rosna em meus ouvidos tua espada
me chama pela morte o teu viver
Esmaga de minha presença o furor
e me cura por toda a cidade
Inala de mim toda fumaça
e esvazia meus predios de vaidade
Aconchega tua mão acolhedora
E me faz bem para o mau olhado
Não me pertube o sono pela madrugada
Nem descançe minha vontade de vencer
Quero toda a luminosidade para mim
meus amigos e irmãos perdidos
Toda a vida sem desculpa
como uma sexta sem bebedeira
Não quero grana para me estragar
Nem me esquecer quem sou
Já fui sujeito do objeto
cortado de meu auto-recesso
Hoje quero toda sua pilantragem
Desesperada e despida para mim
Noites como um inverno
invernos como um verão
Não quero mais jaula enfurecida
ou opinião alheia egoísta
uma cama de paz e sorriso no outro dia
é tudo o que eu mais peço

Por Manfrá

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Barroco

Vão, gritem, me arrastem todos vocês que não compreendem Gregório de Matos Guerra, barroco não é cana, é açúcar estimulante, vértebra em colisão, repouso mental alegre.   Vão, se perturbem até acharem o chocalho na cabeça, batida de podridão que arrasta todo o verão.  Hoje eu achei minha loucura, escrever para não me perder, me perder para escrever, porque o que me antecede quase sempre é susto, susto vindo do meu mal para você, não que não haja nenhum mistério oculto, é que as vezes eu perco a fé e se eu perco a fé eu perco tudo.

Por Manfrá

domingo, 17 de junho de 2012

Bloco de argila


Digam a esses loucos que não se calem diante de mim, e que se faça voraz a voz da multidão, tenho enchido de teatro os meus punhos para fantasiar a realidade de minhas ilusões, enlouquecendo o pobre locutor que dessa historia não compreende o fim.   Na avenida da passarela teatral de nossas vidas, desamparados atores de si mesmos, disfarçando todo o arsenal de misérias humanas como um sopro no ouvido encardido . Quanto mais tempo irei ter antes que a ultima pulsação seja dolorosa e me arranque por inteiro pela raiz?   Me desempenando pura aí como galinha desencalhada, na morbidez de minhas ideias ilusórias defraudado-me em minhas paranoias, chegando em casa triste apanhado pelo divorcio da tristeza com a maldade que dizia ao teu coração: Não se cale tua voz vencedora, nem te repugnes nenhum mal que te possa ferir o calcanhar ao te ensinar caminhar, pois o bem e mal existem apenas para um propósito, disfarçar o inferno que há dentro de todos eles.

Por Manfrá

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Fonte espiral


Agora, como nunca antes, a fonte espiral se tornou mais forte, sugando todo o âmago da vida, sua existência em escalas, seus amores por esmola.  Ainda que o batente não seja sofredor, a sua vitalidade é sugada, arejada pelos cantos mais remotos da vida, ela me faz sentir assim, quando estou desmaiado de terror, a ruptura que explode em minha garganta é fruto da má digestão, rompendo ossos e desfigurando caretas, quando olho para o que sobrou de mim, vejo uma luz gloriosa como uma sentinela embrulhada para mim numa caixa de papelão, quando estou embriagado pelo seus vinhos, suas erupções vulcânicas arrasam minha cidade, me colocando no seio de minha amada, do braço da minha espada.   Como o último show da madrugada, eu me calo e me sento no vazio, ali está toda a maldade deposta diante de mim, o inferno que as vezes inventei por não acreditar num paraíso,mas quem eu quero enganar? ainda me sinto no chão, como um cão perdido a vagar pelas extremidades da terra, quando me olho no espelho nem sempre vejo meu reflexo, somente uma máscara que me guia para além do vago tempo que eu desperdicei por não acreditar em mim mesmo.

domingo, 3 de junho de 2012

Cobertor queimado

As vezes acho que estou pirando, sufocando os meus pulmões com a fumaça de meus
pensamentos, é tanta ideia embaçada que não da para ver o espelho. As vezes eu me
acho louco tentando me decifrar, tentando achar aonde eu me perdi, o que caiu de mim e se achou sem você, quando coloco todas as minhas neuroses numa janela elas não abrem para mim o florescer e o amanhecer, eles como instrumentos de arrogância nem me acham desparafusado de alguma ideia aonde eu não coube, porque eu vejo que todas as relações humanas são como um disfarce, cheio de inveja, egoísmo e desconfiança, uma sociedade aonde todos são como copias de si mesmos. Quando tento me encaixar neles, vejo que minha situação espiritual não é asneira, nem dor de cotovelo, é como uma multidão enfurecida pelo divórcio da corrupção e da verdade, como vários olhares que passam em nossa vida, são poucos que nos decifram e nos colocam dependurado em uma cruz como inimigos por sinceridade. Na teia da invenção da vida moderna, o frasco virou filho de seu odor e a mão suja amiga da falsa simpatia, nem sempre os que gritam são os mais loucos e os espertos mais sábios, a escuridão de nossos passos são a vergonha do que somos,a sacanagem aqui meus amigos não é safadeza no olhar do menino, é fuder o outro na trairagem, como cão esperando seu bote. O amigo de verdade faz presença em suas dores e não se enche de sátiras de sua ruína,mas só quando o homem aprender a valorizá o osso ele comerá também da carne, pois aquilo que o homem plantar, isso ele colherá e jogará para os urubus, para os ratos de barriga cheia que um dia contemplaram nossa marcha silenciosa rumo ao desprendimento de nossas ilusões desnecessárias e fetiches casuais, será como uma despedida aos sentimentos vazios e falsos de nossas historias.



Por Manfrá

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Desarmado





















De drama, comédia eu me servi
Comi tanto do sossego quanto da guerra
Nos olhos de fortuna vi miséria e escravidão
No bolso levei minha regra de esperança
Tocando todo cão magro
Que rodeava minha carcaça
De longe vi a vida que sempre quis
E hoje caminho em direção à ela
Guiado pelo bom pastor
Amaldiçoado pelas drogas de inverno
Hoje sou nota dissonante
Numa sociedade desafinada
Irradia de mim seu brilho
E me queima pela estrada
Fonte de terror são todos eles
Cegos, ignorantes e infelizes
Consumadores de sangue pela terra temperada
Pelo sonho do louco que esteve desarmado
Procurando uma resposta
Viu que todos os hipócritas são iguais
E o desconhecem
Assim como ele à vocês
Rezando para não julgar
E não ser julgado

Por Manfrá