terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Deserto

Deserto, salvação, ruas, feridas,
Amor! que como vela se consome
É mais alto que o grito
Volume ainda que ardido
Degusta de sua nudez
Faz barraco como um conde
Até o casebre se vestir de palácio
Coisas, pessoas, tempo e memorias
Desfechos sem nenhum final feliz
Lembranças que não mais lhe agridem
Vai saber, quantas coisas em mim matei?

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Ápice


Há mistério além daqui
Portas que nunca cruzamos
E deciframos tudo 
Em linhas tortas de giz
Sujo, porém mal amado
Eu nunca busquei
E nem mesmo tentei
Ser amado duas vezes
Esse é meu purgatório
Acreditar que não fui rei
Reclamar pelo que plantei
Matar o que me movia
Desperta-me para longe
Terra sem pedofilia
Inocência não perdida
Tarde eterna e feliz
No meu amor de giz

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Afinando

Gosto do significado de rico em hebraico, que é "ashir", palavra formada pelas iniciais de "olhos, dentes, mãos e pés". Rico é quem tem olhos para ver, dentes para mastigar e falar, mãos para criar e pés para caminhar. Isto não se refere ao aspecto físico, mas à nossa capacidade de criar, compartilhar, amar e ser benevolente. Os gregos, por exemplo, descreviam os objetos em relação à sua aparência. Os hebreus, ao contrário, consideravam mais a essência e função das coisas. Exemplo: Se nos mostrassem um lápis e nos pedissem para descrevê-lo, como seria nossa descrição? Provavelmente, diríamos: “O lápis é azul”, ou “é amarelo”; “tem ponta fina”, ou não; “é cilíndrico”, ou “é retangular”; “é curto”, ou “é comprido”; etc. Um hebreu descreveria o mesmo lápis de forma bem mais simples e objetiva: “É feito de madeira, e eu escrevo palavras com isto.” O estilo de descrição dos hebreus era também pessoal – o objeto era descrito de acordo com a relação dele com a pessoa. Ao descrever um dia ensolarado, em vez de dizer: “O dia está lindo”, um hebreu diria: “O sol aquece meu rosto!”. Na cosmovisão hebraica, a essência das coisas e sua função eram mais importantes que a forma ou a aparência. Na cosmovisão ocidental capitalista o indivíduo encontra-se envolvido por uma áurea que determina seu grau social. Seu sexo, sua faixa étnica, sua religião, sua ideologia política, sua classe social, entre outros, definem o nível de discriminação que o indivíduo irá sofrer ou não, as oportunidades que ele receberá e aquelas que deixará de obter, as dificuldades do caminho, enfim, seu "status social"
"O "saber" e o "ser "já foram bens de alto valor moral social. Hoje vivemos os tempos do “ter”, em que não importa o que uma pessoa saiba ou faça, mas sim que ela tenha dinheiro (de preferência muito) para pagar por sua ignorância e por suas falhas de caráter. Nesse cenário propício surge a cultura da “esperteza”: temos que ser ricos, bonitos, etiquetados, sarados, descolados e muito invejados. O pior dessa cultura é que seus membros sociais não se contentam apenas com o “ter”, é necessário exibir e ostentar todos os seus bens. Assim ninguém esquece, nem sequer por um minuto, quem são os donos da festa. (Trechos selecionados do livro Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado - Páginas 157 e 158:)
Acredito que status social devia ser caráter, já conheci pobre muito rico e rico muito pobre, orgulho disfarçado em roupagem de humildade e inteligência e beleza se perderem por causa da arrogância. Como diz aquela frase de Matheus Dimitru Scutasu:"Conheci um homem tão pobre, mas tão pobre que só tinha dinheiro." Imagine como o mundo seria um lugar muito melhor se as pessoas tão somente deixassem de definir e julgar o próximo segundo seu sexo, etnia, religião, dinheiro e etc. E vissem somente o valor intrínseco do ser humano, não visando somente a aquisição de dinheiro, mas na lapidação de um caráter nobre. E que o "bem-sucedido" não é aquele que possui riqueza material, mas aquele que é rico no amor, que ama o próximo, respeita e que não discrimina ainda que discorde. E que a pior doença não é a física, mas aquela que se caracteriza pela ausência de conceitos abstratos, como o amor e a humildade. Sem esquecer que é fato que o estresse mental pode ter um impacto negativo na saúde física. Quando deixamos de basear nossas concepções e valores pelo o que a sociedade de massa prega, quando nos afastamos de sua massificação e padronização com suas ideias que induz as pessoas a se comportarem como meros consumidores e contribuintes e não como cidadãos dotados de espírito crítico, aí então, estamos próximos de nossa verdadeira essência e identidade. Paulo Freire escreve: A massificação transforma os homens em seres passivos, acomodados, ajustados, incapazes de decidir, sem liberdade, e, portanto, heterônomos. Por isso, o homem não deve acomodar-se no mundo, e sim integrar-se no com o mundo. A sabedoria antiga ensina: "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente" Romanos 12:2. Pois, como bem escreveu Kin Hubbard: "É difícil dizer o que traz a felicidade, a pobreza e a riqueza, por exemplo, já falharam." Bem, no mundo atual, o amor, em suas várias formas, se resume muitas vezes a um mero sentimento. Mas prefiro a visão hebraica que ensina que amor é mais que isso: é uma escolha, é algo prático, traduzido em ações.

sábado, 31 de outubro de 2015

Céu da boca















E quando você se cansar?
E me deixar no horizonte?
Deixar de ver as flores e o seu aroma
E começar a se perturbar pelos espinhos?
Quando minha feiura sobrepor minha beleza
E eu tiver nadado até a última praia
Atrás de pérolas que se dissolvem na mão?
Como areia movediça você se fez
E me capturou em suas entranhas
Mas minha carne contém espinhos
E depois da fome saciada o espinho virou lixo
Os pés depois de enxaguados inundaram meu ilhado ser
Já fui depositado entre as covas de tartarugas mortas
Rodopiei o mundo e encontrei
Um revolver no meu quarto
Mesclei dopamina com você
E não amei mais a pornografia
Não percebi seu afeto
E morri de paranoia
Alimentando a escuridão
Engolindo lâmpadas
E quando você não me quiser ?
E eu estiver acampado em seu coração ?
E se sua terra encher de néctar
Que traga menos ferroadas ?
E não te deixe solapar as entranhas
Fisgadas no fundo do estômago
Sei quantos nós eu trago
Quantos arranhões sobre a pele
Sinto que canso
Que não sou bom o bastante
Desperdicei tempo com refrigerantes
E possuo pouco cálcio
Meus dentes rangem de apreensão
Tornando pontas pontiagudas
O céu da sua boca é o meu céu
Tua linguá minha terra prometida
Se eu perder o foco me afogo
Nesse naufrágio que eu me criei
Era cinza aquela manhã
Eu desesperado me arrependi
Chorei com Deus
E ele chorou comigo.




quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Contrapeso

De canto
Deixo meu reclamo
Formosa viela
O que fizeram com nossos filhos ?
Abastecido de murros
Murros contra esse mundo
Não quero lua sangrenta
Nem muito menos ver a rua sangrar
Não abafe a nossa dor
Deixe-a respirar
De encanto e recanto
Só encontrei no amor
Puro sem ser fingido
Louco sem ser insensato
Na bala que impediram o nosso avanço
Construímos barricadas
E argumentei comigo mesmo
Divagando sobre a vida
Existência além de escalas
Organismos violentos
Que as vezes nos excedem
Mas como contrapeso
Meu poema
Para enfrentar a realidade
Superar o dia a dia
Demonstrar além das expectativas
Viver além das estatísticas

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Eu poderia
















Um vazio, um vácuo, o que importa? Ela partiu
desfazendo a noite no meu mundo de drogas
entre pensamentos, mentes o que sorriu
foi o beijo explodindo como um pavio
minhas crenças, rezas e mantras
inúteis a voz que me chama
a sair da cela que me fiz vilão
Para não me emboscar mais em sua teia
poderia eu ter apertado o gatilho
de minha pobre e doce invenção
que tentei de moldar no meu viver
e esquecer que também sou culpa
que pisaria em nossos cadáveres
almejando subir andares
do inferno ao céu
paciência vencida
paz devolvida
já não sou mais uma alma caída
ou ovelha descarregada
levantei te seguindo do rastro
que te fiz sangrar sem merecer
sussurrando em seu ouvido
que te amo é o meu adeus
e o meu adeus é o meu braço estendido
precisava dela interiormente
naquilo que bate e ninguém entende
que nas noites frias me fez alguém
amado ou desprezado
me deixava atordoado
vontade de te ver apertada aqui dentro
ocupando todo o espaço
que deixei vazio para mim
guardando futilidades e vaidades
que despacho agora com virilidade
a morte que vive em mim
pois meu coração egoísta e confuso
agora entende você longe de mim

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Dura palavra
















Palavras proferidas sem mel
Pertubando espirito sem paz
Nem imaginam quanta dor

Nós tivemos que carregar
Nem sabiam distinguir a verdade

Intenções no coração
Sem seio e desarmado eu fiquei

Quando traí meu refrigério
Parti da cidade rumo ao porto

Para o mar de compreensão
Partidas que arrastam em cordas

Lembranças que trazem cargas
Obestinado a amar e ser amado
Mesmo que seja dura a palavra
Se mata ou da vida
Não interessa a dentes alheios
Nem queria que me abatesse
Sua coragem sem olhos
Ou tola intrepidez

Destinado a ferir-me

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Rinite





















Eu vi, vi que era louco
Quando o grito se instalou na garganta
Quando a alma que ama também sangra
Eu vi, vi que era louco
Vivendo no meio dessa gente "sã"
Acostumado ao tédio
Homem subalterno
Eu vi, vi que era louco
Quando os sábios desse mundo
Ensinaram o caminho da guerra
Que classes não é classic
Para quem vive nas classes baixas
Entre cortes cuspidos
Corpos ardidos
Ardendo como chama
Re-vol-ta
Na cara da polícia
Cria da burguesia
Que se repita!
O amor e a poesia
Pois ambas são uma
Apontadas contra a cara da tirania
Seja dos sentimentos
Ou dos generais
Ferido por fardas
Ou canções de amparo
O que o homem não pode inventar
É a minha vida apegada a sua
Sem rinite
Sem artrite

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Cinza


Como um gesto te cativo
E te faço amparo para dias cinzas
Amanheço mesmo quando não quero
Quando não subtraio o que te resolve
Panela de pressão ecoando pela sala
Sociedade mórbida que tivemos que inventar
Janela doce de minha infância
Que tentaram fechar
Já não há mais espamos

Galho que te cutuque a noite
E te faça acordar do sonho
Para o que te faz sangrar

Acorrentar nunca mais
Aos horrores da vida cotidiana
Vida sem obituario
Amores sem tiroteios
Existência que eu quero
Que me move quando amanheço.

sábado, 4 de abril de 2015

Filé de peixe
















Eu tive medo de ser
E nunca mais subi naquela gangorra
Do gramado daquela casa
Eu nunca mais caí por brincadeira
Do alto daquela árvore
Eu nunca mais me apaixonei
Nem me vi mais
Com asas de imaginação
Voando sobre os alicerces
Paixão que vence o terror
Quanto mais eu sabia
Mais eu via como esse mundo era triste
Voando do teto para as estrelas
Vista panorâmica do que me retenho
Quanto mais amor me tinham
Mais eu não entendia
Como podem me amar tanto
Me ter entre os puxões de orelha
Suportar minha loucura
E ainda me carregar quando estou caído?

domingo, 22 de março de 2015

Cidade charada

Por isso que escrevo com giz de cera, realidade foi o que eu não quiz sentir, maldade dos passos que avançam pela cidade, sobre a poça de sangue, inocente ou culpado.  As vezes vejo desespero disfarçado em pele de orgulho, areia dentro de seus ouvidos entupindo todo discurso no vazio, ferida disfarçada com sorriso, para quem não sabe mentir, e vive correndo da verdade, o obstáculo é você mesmo, sobre a morte de um homem só, enfrentando seus dogmas e paradigmas.  Corram! dizem eles, para que não sejam contaminados, mas vendidos estão todos seus direitos, acorrentados até as cordas do inferno, carregando suspeito como bandido, de terno ou eloquente pregador, enfeitando a cidade charada, que me fez sentar nela, e falar de sua maldade e mordida cruel, que fez rasgar o sonho de muitos loucos, poetas, bêbados e sonhadores.   Cidade charada estou cagando pra ti.

Por Manfrá

domingo, 4 de janeiro de 2015

Estátua de pó

Eu vejo os olhos dela
Rota ardente de visão
Maça vermelha no rosto
Estátua de pó
Estou ficando assim
A cada dia pior
Morrendo como uma lesma
Banhado pelo sal
Frutificando bolhas
Estouradas pelo sol
Como musgo que renasce
Cocaína que empedra
Relva que queima
Sonhos de um homem
Eu vejo os olhos dela
Olhos de como quem que não quer nada
Saindo pela sala
Me deixando no escuro
Espero que revolte
Que enlouqueça
Nossos sentimentos mais sujos
Fera mansa do amor
Que não contorne o retorno
Que inflija o pedágio
Que fure a catraca
Que se doe
Sem medo de doer.