sábado, 28 de julho de 2012

Agulhas




Sinta a agulha
Atravessando a sua veia
Negável dor pagável
Que não pode te curar
Arrasta-me para fora
Lambendo a sua ferida
Hoje acordei tão atrasado
Que me fizeram acreditar que é tarde
Tenho tentado me limpar
Esvaziei os meus bolsos
Roubando carteiras vazias
Cheirei cinzas de desespero
Se afogando em um copo de vodca
Enterro-me em meu quintal
Com a pá que eu mesmo comprei
A magoa que não mata
O erro que não ensina
Deixe-me assim
Procurando mais um vendaval
Que possa me levar
Como cinzas desse lugar
Aonde eu não possa ouvir
Você em meu ouvido
Reclamando por ter
Tudo o que sempre mereceu
Não sou você, não insista em dizer
Que hoje a noite será só nós dois
Os mesmos corpos que se odiavam
Por não entenderem o mundo um do outro
Será que não temos mais
Aquela velha quietude
A calma das madrugadas sensatas
A certeza das coisas que não se vêem?

Por Manfrá

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Casca de misérias


Quero desencadeia um monte de abraços
Apertados, de todas as malas
Quero sacrificar em teus altares
Encurvar tua coluna sobre a minha
Enxergar no fundo do lençol
O teu pé pequeno e encardido
Encher de lagrimas enquanto vivo
Para não morrer de vontade na morte
Pular, me divertir, acordar tarde sem medo
Enlouquecer, me perder, me encontrar por aí
Chatear alguém que eu gosto
Para me ver refletido em seus dentes
Se não amarelos, brancos ou prata
Ouro embrulhado numa casca de misérias
Sem promessas gloriosas no final
Ou sopa quente internado num hospital
Ardor com deslize indecente
Cama com sobremesa de louco
Maldades quero dizer adeus
E nunca mais dizer saudades
Quero estar pronto onde está
E permanecer no som da sua voz

Por Manfrá

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Orelha de crocodilo


 
















Da distancia entre o por do sol ao pé que treme, mas não vacila

Cavalgando pelo espaço como uma luneta, 

atravessando a constelação virgem de aparência

Na fantasia da cabeça do cupim o resto de madeira veio me mostrar

Ontem como era jovem sua dor, hoje como te faz para ordenhar

Da orelha do crocodilo ao pé de meu Salvador

Faltou-me tudo o que das cabeças deles nos faltava

Faltou-me a repreensão de quem me ensinou 

que da doce ou amarga terra não levo nada

Nem balsas congeladas de um inverno feliz

Tramando a própria ingenuidade como flores

Da janela do alto ao portão do inferno o lunático aqui acreditou de mais

Amando a própria vida como uma tarde de seio farto e miséria amarga

Na atmosfera que se faz forte o homem de cera vem poluir

Tampando todo ouvido com asneiras e fofocas de dramas violentos

Gente que da fuça não tira nada à não ser ranho num papel higiênico

Na morte da sombra que se fez sol o motivo deles ainda são vocês

 

Por Manfrá

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Vinho e mentira
















Falso, eu me destrui,
Desperto, estou calado em ti
falsas, má dia à vocês
Chatas, palavras cruzadas
Cordas, pescoços não enforcados
Curumim, criança de língua ultrapassada
Ares, deus da violência e da guerra
Orgias, vinho e mentiras inversas
Roda, o que me cerca e o que me quebra
Raspa, sua nuca falsa de cérebro
Chateia, esperneia sua preguiça
Burra, porque me fez calar em ti
Quero, desmorona toda essa bichona
Chama, não sangra essa esmola
Vaidade, porque é tudo vaidade
Pensar, inverta toda essa bipolaridade
massas, sociais que se infectam
Cura, minha mentira nua e crua
Veja, Vera Lúcia veja
Sacana, espírito de boca feia
Me erra, não to na fila para dar vez
Gospe, todo o ranho para ti
Fogo, explode veia sedentária
Acalma, toda a minha boca suja
Sangra, essa minha mania de desculpa
To bem, to querendo ficar bem!
Tentei, to tentando me libertar

Por Manfrá

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Pasto novo

Não houve exagero, nem compadre camarada, era a mais estampa fina pendurada no varal, toda retalhada para o meu descaso, sem chance de divorcio antes da sorte, nem azar demasiado forte para te enfrentar.  Na estupidez o cativante se cativou preso por suas próprias esmolas, sem palmas o amor próprio se fez fraco, enjoando-se de suas estúpidas encenações.    Como violência ela grita, subordinada ao seu acaso, sem passagem milagrosa pela estrada de insinuações e trapaças, no meu terror eu não me faço de monstro para encontrar meias verdades, me disfarço de louco para não encontrar meias realidades, gente magra, gorda, toda iludida pelo seu falso propósito, imoral de carne e osso julgando a moral de alma abatida, desenfreada pelas esquinas da vida, vindo como um forte sol no deserto de minhas ilusões, todas como emblemas desfigurados, estéticas disfuncionais, miragens do que restou de meu pasto.

Por Manfrá