domingo, 7 de outubro de 2012

Carla maltratada



Cresce o abandono, e no coração dela estou manchado de tinta preta e urina de cavalo, vermes aos olhos da terra desarmada, gritando por sua nudez, bufando como o lobo dos sete mares.   Injeta-me como heroína, sua hipocrisia me recriou das cinzas de seu orgulho, me devolva ao inóspito bem me querer, te desejo como um cão, minha cadela envenenada, sua droga é como minha comida.   Rejeitando a perfeição de seus erros, eu me invento nela, e ela como uma fonte de luz negra obscurece minha alma escura, sem sentido para a vida mergulhada na incompreensão humana.   Como ela poderá me deduzir? devorar-me pela metade?  Recrio nela cada despertar de minha louca paixão, infame aos olhos dos pecadores orgulhosos, libertadora ao passo lento da vida, batendo em cada acorde de sua mistura trágica, eu me despido perante ela, e como uma deusa eu me sacrifico em seu altar, minha evolução lenta e intima distorcida pela veneração gratuita de meus instintos, sou a encarnação da maldade disposta dentro de mim, meu desejo é possuir-la como fonte de prazer enigmático.    Desencadeia dentro de mim toda a bravura do impulso egoísta, queimando como o sol do meio dia minhas pálpebras já cansadas de apanhar por sua beleza significante ao meu paladar.    Eu a vejo rastejar, por trás de mistura ilícita, ela corre como rainha da realeza anêmica, toda embrulhada pronto para ser devorada por minha carne.   Ela se identifica como Carla, Carla maltratada, Carla apanhada e cansada, eu a imito de meus sinais ilusórios, tentando de toda a sorte torná-la real ao meu conto de anfetaminas e morfinas, desprendiciosa, guerreira aos olhos de minha manifestação artística, vou pintá-la como o anel de finos manjares entalado em minha garganta, compor-la ao meu retrato de perseguição visual, entrelaçado entre as paredes finas e suadas de meu quarto de recuperação.     Aprendi a conviver com os pensamentos embaçados de pessoas comuns, mais Carla viciada está ali, deturpando toda minha rotina deprimente e meus anseios efêmeros, me tornei como uma bola de pelo, brinquedo do felino voraz, ela como uma cria malvada me despedaçando pelas esquinas do meu futuro incerto.   Carla, Carla, maldição ou cura? progresso ou regresso de minhas lúcidas buscas? Vou queimá-la até que se torne cinza e ressurja mais forte e poderosa como a mitológica ave fênix, ainda que eu seja tragado pelo seu olhar esmagador, vou comê-la e torná-la parte de minha matéria, engrenagem de minha existência locomovendo-me ao abismo de minhas perturbações espirituais e sentimentais.  Por quê? Eu que estava livre de todos os riscos do amor, me acorrentar ao buraco negro de incertezas e indagações anormais, talvez eu quisesse lamentar sobre o leite derramado e escovar meus dentes com a púrpura de sua maquiagem excêntrica.    Assim eu a vi, assim eu me perdi, sua prepotência era fogosa, minha impotência escravo de suas desventuras pelas noites curitibanas, Carla estava ali, como toda noite, desamparada pela vida, seu apetite por drogas inalava de sua cara perfumada com fragrâncias baratas de uma marca qualquer, eu queria repousá-la, aconchegá-la ao meu instinto voraz e louco.   Ela me encantou pela dança, como se sua expressão corporal se suicida-se em cada passo.  Eu sempre fui fraco ao tormento de belas tempestades, queria correr com ela sobre as densas nuvens de minha perplexidade divina.  Não hesitei duas vezes, parti para cima dela como um caçador de aventuras desleais, em sua negação estava  minha persistência para convidá-la,para tê-la em meus encantos, meus braços inimigos e amigos de quem quer amá-los ou odiá-los.   Carla como parasita se alimentava de minha necessidade, assim iniciava-se o ritual de sacrifícios divinos e hipócritas.  

Por Manfrá

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