Cresce o abandono, e no coração dela estou manchado de tinta
preta e urina de cavalo, vermes aos olhos da terra desarmada, gritando por sua nudez,
bufando como o lobo dos sete mares. Injeta-me como heroína, sua
hipocrisia me recriou das cinzas de seu orgulho, me devolva ao inóspito bem me
querer, te desejo como um cão, minha cadela envenenada, sua droga é como minha
comida. Rejeitando a perfeição de seus erros, eu me invento nela, e ela como
uma fonte de luz negra obscurece minha alma escura, sem sentido para a vida
mergulhada na incompreensão humana. Como ela poderá me deduzir? devorar-me pela
metade? Recrio nela cada despertar de minha louca paixão, infame
aos olhos dos pecadores orgulhosos, libertadora ao passo lento da vida, batendo
em cada acorde de sua mistura trágica, eu me despido perante ela, e como uma
deusa eu me sacrifico em seu altar, minha evolução lenta e intima distorcida
pela veneração gratuita de meus instintos, sou a encarnação da maldade disposta
dentro de mim, meu desejo é possuir-la como fonte de prazer enigmático.
Desencadeia dentro de mim toda a bravura do impulso egoísta, queimando como o
sol do meio dia minhas pálpebras já cansadas de apanhar por sua beleza significante
ao meu paladar. Eu a vejo rastejar, por trás de mistura ilícita, ela corre como rainha da realeza anêmica, toda embrulhada pronto
para ser devorada por minha carne. Ela se identifica como Carla,
Carla maltratada, Carla apanhada e cansada, eu a imito de meus sinais ilusórios,
tentando de toda a sorte torná-la real ao meu conto de anfetaminas e morfinas, desprendiciosa,
guerreira aos olhos de minha manifestação artística, vou pintá-la como o anel
de finos manjares entalado em minha garganta, compor-la ao meu retrato de
perseguição visual, entrelaçado entre as paredes finas e suadas de meu quarto
de recuperação. Aprendi a conviver com os pensamentos
embaçados de pessoas comuns, mais Carla viciada está ali, deturpando toda minha
rotina deprimente e meus anseios efêmeros, me tornei como uma bola de pelo, brinquedo
do felino voraz, ela como uma cria malvada me despedaçando pelas esquinas do
meu futuro incerto. Carla, Carla, maldição ou cura? progresso ou
regresso de minhas lúcidas buscas? Vou queimá-la até que se torne cinza e
ressurja mais forte e poderosa como a mitológica ave fênix, ainda que eu seja
tragado pelo seu olhar esmagador, vou comê-la e torná-la parte de minha matéria,
engrenagem de minha existência locomovendo-me ao abismo de minhas perturbações
espirituais e sentimentais. Por quê? Eu que estava livre de todos os
riscos do amor, me acorrentar ao buraco negro de incertezas e indagações
anormais, talvez eu quisesse lamentar sobre o leite derramado e escovar meus
dentes com a púrpura de sua maquiagem excêntrica. Assim eu a
vi, assim eu me perdi, sua prepotência era fogosa, minha impotência escravo de
suas desventuras pelas noites curitibanas, Carla estava ali, como toda noite,
desamparada pela vida, seu apetite por drogas inalava de sua cara perfumada com
fragrâncias baratas de uma marca qualquer, eu queria repousá-la, aconchegá-la
ao meu instinto voraz e louco. Ela me encantou pela dança, como se sua
expressão corporal se suicida-se em cada passo. Eu sempre fui fraco ao
tormento de belas tempestades, queria correr com ela sobre as densas nuvens de
minha perplexidade divina. Não hesitei duas vezes, parti para cima dela
como um caçador de aventuras desleais, em sua negação estava minha
persistência para convidá-la,para tê-la em meus encantos, meus braços inimigos
e amigos de quem quer amá-los ou odiá-los. Carla como parasita se
alimentava de minha necessidade, assim iniciava-se o ritual de sacrifícios
divinos e hipócritas.
Por Manfrá
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